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Uma Comunicação para chamar de sua

15-11-2010 11:18

 

Uma Comunicação para chamar de sua

Por: Ana Carolina Alves e Stephany Cardoso 

 

    Os meios de comunicação participam atualmente de forma decisiva na construção dos saberes e significações na sociedade. Os grandes veículos abordam os temas cotidianos no âmbito regional, nacional e internacional, informando e promovendo a interação entre os indivíduos e grupos sociais. Na direção oposta, o jornalismo comunitário é focado nos temas específicos de uma comunidade, atuando no diálogo em torno dos interesses comuns a esses indivíduos. Um representante da AFLOR (Associação Floresta de Comunicação Comunitária) disse em entrevista ao escritor Henrique Wendhausen que essa comunicação é para ser feita com o bairro, para o bairro e pelo bairro.

 

    Na América Latina, a Teoria da Comunicação Dialógica teve origem com o educador Paulo Freire, que idealizava um modelo de comunicação baseado no diálogo e na participação. A ideia do educador é estabelecer uma situação em que exista a possibilidade de criar conhecimento de forma interativa. De acordo com o professor de Comunicação da Universidade Católica de Brasília, Paulo Marcelo, a grande contribuição do jornalismo comunitário é estimular a participação e o debate. “O mais importante é a inclusão cidadã. As pessoas serem chamadas a participar e terem esse espaço, dessa forma tira-se a sensação de impotência”, afirma o professor.

 

    De acordo com Henrique Wendhausen, autor do livro “Comunicação e Mediação das ONGs - Uma leitura a partir do canal comunitário de Porto Alegre”, a dinâmica comunicativa das ONGs se difere das empresas de comunicação tradicionais, pois se tratam de formas organizativas orientadas para causas e lutas sociais de interesse de grupos da comunidade e não para a acumulação de capital.

    Sendo assim, a comunidade assume o papel de decidir o que é importante noticiar e o que não é defendendo seus próprios interesses. Dessa forma, um jornal comunitário que decide apoiar um determinado agente político não se descaracteriza de seu papel principal se a comunidade consentir com a decisão.

 

    Segundo Paulo Marcelo, a Comunicação Comunitária surge como alternativa aos meios de comunicação tradicionais: “Os veículos que falam pra muita gente não conseguem perceber as especificidades das comunidades, então o jornalismo comunitário vem para suprir a omissão da grande mídia”, afirma o professor.

 

Comunicação Comunitária na prática

 

    O papel social do jornalismo foi colocado em discussão na X Semana da Comunicação da UCB (Universidade Católica de Brasília). O evento teve a participação do diretor da ANF (Agência de Notícias das Favelas), André Fernandes. Jornalista e ativista social, Fernandes morou, entre 1993 e 2003, nas favelas cariocas do Borel, Santa Marta, Acari e Vigário Geral.

 

    A ANF foi lançada pela ONG Casa da Cidadania, para atender a demanda da imprensa e da sociedade, que precisavam obter informações do que acontecia nas favelas do Rio de Janeiro. Lançada em janeiro de 2001 como um projeto, a ANF foi logo reconhecida pela agência de notícias estadunidense “Reuters” como a primeira agência de notícias de favelas do mundo. A ANF deixou de ser um projeto e foi instituída como uma ONG, produzindo desde outubro de 2009 o jornal “A voz da Favela”, que está na 4ª edição, com tiragem de 50 mil exemplares.

 

    A equipe do jornal “A voz da Favela” conta com a colaboração de moradores das comunidades, em sua maioria estudantes universitários que produzem textos para o periódico. Apoiados por parcerias, a ANF distribui gratuitamente seu jornal e desperta o interesse de grandes veículos. Segundo André Fernandes, a agência muitas vezes abre mão de ser a primeira a publicar fatos para que as equipes de reportagem ou colunistas da grande mídia os divulguem primeiro.

    Assim, “A voz da Favela” lista na seção “Deu na grande mídia” os acontecimentos das favelas que foram noticiados pelos grandes meios, e em “Não deu na grande mídia”, enumeram os fatos que, segundo seu julgamento, eram de interesse da população em geral, mas não estiveram na pauta desses meios.

 

    André Fernandes destacou aos estudantes da UCB a importância do jornalismo como instrumento de crescimento e mudança na vida da população. Nesse sentido, ele citou o exemplo em que os ativistas da Casa da Cidadania fixaram nas portas das casas dos moradores papéis que traziam textos do artigo 5º da Constituição Federal, tratando da inviolabilidade do lar. Segundo André, após saberem da ilegalidade da invasão de suas casas por policiais sem determinação judicial, os moradores passaram a questionar os policiais que tentavam fazê-lo, e estes recuavam.

 

    O jornalista acredita que o conhecimento é a base para a libertação das populações carentes da subjugação pelos que possuem maior poder aquisitivo. André Fernandes numa provocação aos estudantes da universidade, convidou todos para que se juntem à rede de comunicadores que dão voz às favelas no mundo. A linha ideológica e as expectativas quanto a essa ação social foram descritas pelo ativista, em entrevista exclusiva ao F5 Mundo Digital. Confira aqui:

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