Trotsky
18-11-2010 11:03
Trotski não se chamava Trotski, Lênin não se chamava Lênin. Nem Fernanda Montenegro, nem Marilyn Monroe. Foi pensando nisso que ele se levantou naquela manhã. Um pouco tonto, que fora dormir tarde. Um tanto tonto, que passara uns três dias sem comer.
À sua volta, o caos. Todos os psicólogos e espíritas e adeptos do feng shui diriam que aquela bagunça externa era resultado de uma bagunça interna. Pouco importava. O aluguel já ia vencer e ele teria que arrumar a mudança, mesmo. Se for pra sofrer, que se sofra uma só vez. Parou um instante na frente do vidro da janela. As pessoas lá fora pareciam tão limpas, tão dignas, tão diferentes dele. Ele teve vontade de descer e unir-se a elas, anônimo naquela calçada onde ninguém saberia quem ele era. Queria sentir-se assim digno também e cheio de compromissos por alguns minutos, sair da vida que ele conhecia, poderia ser bom o lado de lá também. Desceu as escadas com os olhos muito vivos.
“Enquanto Mônica tomava um conhaque noutro canto da cidade como eles disseram”. Foi pensando nessa frase que, às 6h da manhã, ela se levantou como de costume. Banho, café e apenas uma certeza: Estou atrasada.
Velha, ela não era. Mas seu rosto tinha um “quê” de pessoa séria, compromissada, estudiosa, trabalhadora e que dorme antes das 22h. E ela era tudo isso. Tudo isso com mais um agravante: Era organizada. Aqui, o mesmo psicólogo/espírita/seguidor do feng shui diria que era uma pessoa destinada a crescer. E ela era. Passou em frente à janela para ver se fazia sol e acabou olhando para a praça. Viu aquelas pessoas sentadas no chão e teve vontade de saber o que é a despreocupação por um dia. E num ato de extrema loucura, ou extrema coragem, ela decidiu que se daria uma dose de conhaque. Não faria mal descansar só por um dia o coraçãozinho tão enjoado de carbonos. E as pessoas eram tão belas... Tinham no rosto uma vivacidade de quem realiza os sonhos, de quem tem tudo o que quer. Ela então se sentou num canto isolado da grama para observá-los, o rosto corado do conhaque, do sol e da emoção.
Encontraram-se assim. Ele querendo ser sério, ela a fim de ser descolada. Conversaram, se entenderam. Marcaram um encontro para o dia seguinte, 10h, no mesmo lugar. Expectativas e sorrisos. Sentiam-se tão bem ali, simplesmente por estarem juntos, tentando ser sério/descolada. Tentando experimentar um jeito novo de viver. Passaram a noite pensando em mudar, o lado de lá pode ser bem interessante. Ela tomava café e tentava fazer o mapa astral dele. Ele decidiu olhar as ofertas de emprego. Mas, na manhã seguinte, ela estava ocupada e decidiu não ir. E ele, dormiu até 12h, de ressaca. Nem ficaram sabendo que moravam no mesmo prédio.
F5 Mundo Digital
Por: Marina Maria
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