Notícias, Matérias e Diversão!

Dolce sem Gabanna

17-11-2010 23:13

Por: Patrícia Rodrigues

 

 

O despertador tocou às 5h30. Acordei com a certeza de que hoje iria ser um dia e tanto. Tomei banho, me arrumei e saí em direção ao consulado.

O trânsito de Brasília estava caótico como sempre. Liguei o rádio do carro para tentar me distrair um pouco, mas só conseguia pensar na pasta de documentos que estava levando. Será que eu tinha documentos suficientes para provar que tenho vínculos com o Brasil e que não sou uma imigrante ilegal em potencial? Quantas dúvidas! “Tudo vai dar certo! Você só vai fazer umas comprinhas em Miami” eu repetia pra mim mesma.

Depois de meia hora de trânsito que pareceu durar duas horas, cheguei ao consulado. Eram 7h. Fiquei na fila por uns vinte minutos e logo me chamaram para tirar as digitais. Esperei mais um pouco e já era minha vez de falar com o agente consular. Fui encaminhada para a segunda cabine, onde havia uma ruiva gorducha, de meia idade e com cara de poucos amigos.

Cheguei tentando ser simpática:

 

 

- Bom dia!- eu disse com um enorme sorriso

Ela foi curta e grossa

- Vai pra onde?

- Miami

-Fazer o quê?

-Compras

- E por que não faz aqui mesmo?

Não acreditei no que ela tinha dito. ‘ Mas que mulher estúpida’- pensei

Resolvi parar de xingá-la em pensamentos e responder o que havia sido perguntado.

- Porque Miami tem todas as grifes, todo o luxo que as mulheres gostam. Você é mulher. Sabe como é, né? - dei um sorriso amarelado

Ela nem se importou em parecer simpática

-Não. Não sei.

E fez uma pausa que pareceu durar uma eternidade. Olhou uns papeis e disse: - Desculpe, mas você não se enquadra nas leis americanas. Não vou poder conceder seu visto.

Entrei em pânico! Eu estivera planejando esta viagem por tanto tempo e agora não poderia ir. Tentei argumentar:

- Mas por quê?

- Você não possui vínculos suficientes com o seu país.

Uma luz no fim do túnel se ascendeu. Eu tinha uma pasta repleta de documentos. Então, comecei a tirar vários papeis e falar ao mesmo tempo.

- Sou servidora pública, tenho uma filha, casa e carro em meu nome e ainda estou fazendo mestrado. Tenho todos os documentos aqui. A senhora quer ver?

Ela não tirou os olhos do computador e apenas disse:

- Desculpe! Tente daqui dois anos, quando conseguir comprovar que não vai abandonar seu país para viver ilegalmente no MEU. – Ela frisou bastante essa última palavra.

Eu não tinha mais o que falar. Se bens, carreira e família não são vínculos suficientes, eu não poderia fazer mais nada. Saí de lá transtornada. Fui para casa o mais rápido que eu pude. Queria avisar minha filha que a gente teria que se conformar com a rua 25 de março.

 

 

F5 Produções

Voltar

Procurar no site

© 2010 Todos os direitos reservados.