O valor do desvalorizado
15-11-2010 11:14Quem não gostaria de viver do que gosta, e depois de um dia cansativo de trabalho ser aplaudido de pé por uma platéia lotada de pessoas? Talvez para muitos seja a idealização de um grande sonho que ainda não se concretizou. Demonstrações artísticas são capazes de transformar a autoestima, a subjetividade e até mesmo a relação dos indivíduos dentro de uma sociedade.
O quadro vivido pelos artistas amadores da Capital Federal não é nada fácil. O mais difícil não é enfrentado no palco e sim nas ruas, no dia a dia, pois viver de teatro no Brasil é muito complexo e requer perseverança e, às vezes, muita sorte.
A divulgação dos grupos teatrais é algo essencial para a contemplação do sucesso. A aparição nos meios midiáticos é de extrema importância, mas infelizmente, é nesse momento que as companhias de teatro encontram sua maior dificuldade. As empresas locadas em Brasília procuram atender, em primeiro lugar, as demandas de atores e companhias já conhecidas e famosas. Para os elencos amadores, sobram as piores pautas e os piores teatros.
Atualmente, a inacessibilidade das mídias para companhias e grupos de teatro amador é algo que merece relevância. Conseguir patrocínio que mantenha uma companhia de teatro funcionando é uma tarefa árdua.
Guto Barroso, ator da Companhia da Ilusão há 4 anos, formou-se em Cênicas no ano de 2009 e logo em seguida iniciou a faculdade de administração. Guto conta que tem um grande amor pelo teatro e não pensa em parar jamais, mas infelizmente descobriu que viver apenas de teatro em Brasília é uma realidade cruel. “Assim que me formei percebi que teria de escolher entre dois caminhos: sair de Brasília ou fazer outra faculdade. “Escolhi a segunda opção, afinal amo morar aqui”, confidencia. Assim como Guto, muitos outros atores passam pela mesma experiência.
Esse motivo faz com que a produção artística independente cresça rapidamente e conquiste cada vez mais o cenário cultural. – “Infelizmente essa é a realidade vivida aqui. Nós atores precisamos optar por uma segunda atividade, ou isso, ou morar nos fundos da casa dos pais”, sentencia.
A maioria dos atores faz teatro por prazer, embora a atividade demande tempo e dedicação. A denominação “Teatro amador” não condiz com o teatro feito por principiantes ou aquele com ausência de técnicas. O termo faz referência a artistas que não vivem apenas do teatro, assim como o ator Guto Barroso.
Fortificando-se nas dificuldades encontradas para sobreviver da arte de fazer arte, artistas se tornam designers e produzem seus próprios folhetos e a partir daí já passam a garotos propaganda, saindo de bar em bar para divulgar suas apresentações.
Como dizia o grande Portela: “para viver de teatro é preciso ser resistente e sobreviver com pouca comida e um quartinho mal cheiroso de uma pousada mal localizada”.
Por: Wlissara Benvindo
F5 Produções
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