Horas eternas
01-12-2010 15:52
Após dias seguidos de muito trabalho e estudo, mais um feriado prolongado se aproximou. O humor e os assuntos das pessoas acabam se alterando, por causa da chance de relaxar e sair da rotina. Na véspera, as pessoas em suas casas arrumam as malas; nas empresas, os funcionários procuram deixar tudo organizado para não ter preocupação e, nas ruas, os motoristas ficam mais impacientes nos congestionamentos que atrasam a sua chegada em casa. Malas prontas, lanches preparados e casa fechada. Tudo confirmado para uma viagem que normalmente dura quase quatorze horas. Uma viagem que passa por quatro estados ou três regiões diferentes, com direito a imaginar desenhos nas nuvens, adrenalina, dores e diversas paisagens. Nos primeiros quilômetros de rodovia uma sonolência começa a bater, nem as conversas nem o balanço do carro atrapalham o sono. Quando se acorda, a sensação de que o tempo passou mais rápido te faz querer voltar a dormir, para ver se o destino se aproxima mais rápido ainda. Quando o sono acaba, o que resta é observar a estrada. Carros, motos e caminhões fazem manobras arriscadas para ganhar mais tempo. Diversos animais mortos na pista por causa de atropelamentos. As horas se passam e o céu fica laranja, o pôr do sol chegou e os perigos na estrada aumentam. De repente, um carro prata passa em altíssima velocidade, sem sinalizar e cruzando entre os carros. Vão passando os minutos e o tédio na escuridão só vai aumentando. Escutar músicas, joguinhos do celular, observar o caminho no GPS, comer bolacha e dormir não adiantam de nada. Muitas horas de viagem ainda restam. Nem os poucos minutos em pé nas paradas ajudam, só aparecem mais dores pelo corpo e a necessidade de uma massagem. O tédio só acaba ao ver uma movimentação diferente. Mais à frente, a rodovia estava parada. Carros dando sinais de alerta e, ao fundo, luzes amarelas de alerta. Cinco ambulâncias e a polícia rodoviária se aproximavam vindo pela contramão. Na pista, alguns socorristas já estavam colocando uma das vítimas na ambulância. Do outro lado, massagem cardíaca era feita em uma pessoa deitada no chão. Um grave acidente tinha ocorrido. Um carro preto foi totalmente destruído, outro estava sem alguns pedaços e uma moto estava no chão. O responsável pelo acidente era aquele carro prata, o mesmo que havia nos ultrapassado quilômetros antes. Este, ao contrário dos outros, estava totalmente intacto. Não importavam as características da via – simples, duplicada, com buracos ou um tapete – e do tempo – sol ou chuva – as atitudes de alguns motoristas continuavam as mesmas, apesar de passarem por graves acidentes com vítimas inocentes. Em longas dezesseis anormais horas de viagem, as conversas, reflexões, sono e o teste de paciência são colocados em dia. O alívio só aparece quando, da janela, é possível ver as luzes da civilização. Luzes do destino e de sua cidade natal. Agora, é descansar, rever amigos e a família. Pois os dias passam rapidamente e daqui a pouco é a hora de colocar as malas no carro e embarcar no tédio da volta.
Por: Gabrielle Santelli
F5 Produções
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